Aline Isidoro de Moraes (org.), Daniel Cardoso Rodrigues (org.), Heloisa
Siqueira Garcia (org.), Lenaye V. Silva (org.), Lenna Nascimento (org.)
O inicio e o conteúdo de um texto
sempre são complexos, principalmente quando não são pautados por um tema ou um
problema, ficando a deriva, ao bel prazer do escritor, complicando ainda mais
se este nunca se viu diante da tarefa especifica daquele texto, como o presente
texto que se apresenta nessas páginas. Apesar de o objetivo ser simples,
apresentar os anais da IV Semana do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Campus Sorocaba, fico
tentado a contar um pouco da trajetória de construção da semana, que apesar de
não ser nada fora dos padrões de construção de um evento acadêmico-cientifico
se constituiu em um momento de grande aprendizado para quem trabalhou para sua
realização.
Presumo que toda a construção de um
evento acadêmico-científico possua um tema, que será central para a
constituição das mesas, terá um público-alvo, haverá possibilidades de
atividades durante, mas pós-evento também. Um bom exemplo, foi o I Encontro dos
Movimentos Sociais e Sindicais da Região de Sorocaba, encontro que visava a
construção e a relação entre a UFSCar e os movimentos das cidades próximas a
ela. O evento surtiu inúmeros frutos, entre eles a formação de um Fórum
permanente, a publicação de um livro, a oferta de um curso organizado pelos
professores e militantes do movimento negro tratando a cultura e a história do
povo africano, além da articulação politica entre os movimentos.
Esses são exemplos das
possibilidades de ações da universidade em parceria com os movimentos sociais,
sindicatos e outras esferas da sociedade. Destacamos aqui a importância da
universidade para a comunidade em que está inserida, pois a universidade é um
espaço de formação humana, que imprime valores nos sujeitos que passam por ela,
não é meramente um local para a “formação de profissionais” para o mercado de
trabalho, tampouco um centro de pesquisas que serve ao interesse do capital. É
um espaço que deveria ter como premissa o que Gramsci chama de Educação
Desinteressada, uma formação voltada para a construção e emancipação do ser
humano, e não interessada na formação de profissionais para o mercado de
trabalho, pois a qualificação profissional é consequência da educação
desinteressada e não objetivo dela. (NOSELLA, 2010)
Dentro desta concepção de
universidade é que se constituiu o curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar
no Campus Sorocaba, ambiente que estimula os sujeitos a buscarem além
dos limites de tempo/aula, conteúdo/matéria, teoria/prática, ou seja, que os
acadêmicos realmente vivam a universidade. Este período da nossa vida é de
fundamental importância, visto que como futuros educadores não podemos apenas
nos apropriar de um conjunto de informações teóricas, mas precisamos aprender a
refletir sobre diversos temas e saber como nos portar diante deles. Sentimos
que o curso vem cumprindo o seu papel de apresentar aos estudantes momentos de
estudo e de reflexão que nos impulsiona a sermos sujeitos autônomos de nossa
própria história. Uma universidade comprometida com a sociedade propicia
momentos de reflexão sobre as práticas cotidianas de uma atividade profissional
que intencionamos seguir e para tanto devemos estar conscientes de todos os
prós e contras deste caminho, sendo capaz de refletir sobre nossas práticas e
escolher nosso caminho, como diria meu professor de Escola e Currículo, “Você
pode ser o que quiser, tradicional, construtivista, marxista, contanto que tenha
consciência de seu posicionamento e assuma quem você é!”.
Faz-se necessário este pequeno
relato, que a bem grosso modo, demonstra o que tenho visto como concepção
pedagógica do nosso curso, para poder demonstrar de qual ambiente emergiu o
tema da semana: Educação e Movimentos Sociais. Ele surgiu entre um grupo de
oito ou nove estudantes que discutiam a necessidade de uma articulação para
realizar a semana do curso, que em sua quarta edição, seria a primeira vez
organizada unicamente por estudantes.
Observamos que dentro de um
ambiente tão instigante ao questionamento e à mobilização, se torna necessário
pensar na articulação entre educação e movimentos sociais, pois acreditamos que
a educação não deve ser uma ferramenta ideológica do Estado, tampouco da lógica
capitalista, com o princípio de manutenção do poder ou preparação para o
mercado de trabalho e vivência na sociedade capitalista neoliberal. Acreditamos
que a educação visa a emancipação dos sujeitos (em qualquer faixa etária) e
deve demonstrar a realidade existente dentro dos muros da escola, (como apontam
Apple, Bourdieu, Mézàros, Paulo Freire) e fora dele. Se temos o objetivo de
emancipar, então devemos nos articular, fazer politica de coalizão, nos unirmos
com os demais oprimidos, sendo assim, qual é a expressão mais recorrente dos
oprimidos, se não a articulação em forma de movimento, com pauta de
revindicação e pedagogias de ação?
Os movimentos sociais são uma das
expressões da luta das “minorias” oprimidas, marginalizadas e guetificadas em
nossa sociedade. São diversos os movimentos sociais em luta constante por
melhores condições de vida, podemos citar o movimento da classe trabalhadora,
em formato de sindicato ou associação, o movimento estudantil, no formato de
grêmios, centros acadêmicos, diretórios acadêmicos, entre outros. Os movimentos
étnico-raciais, ambientais, pela inclusão dos portadores de necessidades
especiais, pelo direito ao acesso à comunicação e às mídias digitais.
A primeira reunião foi feita três
dias após a conversa entre os oito estudantes, a proposta foi apresentada, com
propostas de temas para as mesas durante os cinco dias e possíveis convidados,
junto a uma proposta de programação de atividades. Aberta a discussão, inúmeros temas e propostas para semana
surgiram. Marcamos uma segunda reunião uma semana depois para apresentação das
demais propostas de temas. Após esta segunda reunião, o cronograma de
atividades estava quase completo, pois o tema foi aprovado e acrescentamos duas
rodas de conversa para falar sobre alfabetização e letramento.
Mas como a concretização se dá pelo
processo de construção, durante o processo de organização da semana foi
retirada a mesa sobre movimento feminista e movimento LGBT, temas que
acreditamos ser bastante importantes e alteramos para movimento discente e
docente, pois não havíamos conseguido encontrar participantes para a mesa antes
pensada e também nós não havíamos contemplado na Programação uma mesa referente
ao segundo tema, que para nós também é de suma importância.
O processo foi longo, seis, sete
meses de muita correria para mantermos um equilíbrio nas mesas, buscando
representantes tanto do movimento como de pessoas que trabalham com o tema na
área da educação. Tentando deixar clara a possibilidade de união das duas
temáticas, esclarecendo que educação e movimentos sociais não apenas
podem, mas precisam andar juntos, pois do movimento surgem as demandas e
a luta por uma sociedade melhor e a educação é um processo que leva à reflexão
e também à mobilização para colaborar com a mudança.
Além da organização das mesas, foi
possível oferecer, graças à disponibilidade de inúmeras pessoas, mesas sobre
alfabetização e letramento, que contou com a presença de coordenadora
pedagógica e professoras da rede de Sorocaba, houve também apresentação
de professoras especialistas em educação especial, que falaram sobre as
possibilidades e ações de alfabetização com crianças com necessidades
especiais. Agradecemos essas profissionais que doaram um pouco de seu tempo
para fazer a articulação entre a teoria e a prática.
Também agradecemos a Prof.ª Dr.ª
Lúcia Lombardi, que foi muito prestativa oferecendo um mini-curso com o tema:
“Teatro e causos de escola”. Outra pessoa que não podemos deixar de agradecer é
a Samira …., uma contadora de história que tem muita história de vida para
contar e ofereceu um mini-curso de fantoche mamulengo, um brinquedo tipicamente
brasileiro.
Registramos aqui nossos
agradecimentos aos professores e professoras que trabalharam na comissão
cientifica, aos diversos colegas que trabalharam na organização durante a
semana, para preparar o café cultural, ajudaram com o som e o datashow,
carregaram mesas, venderam camisetas, rifaram livros, venderam trufas, e
fizeram tantas outras coisas para que essa semana fosse realizada.
Eu pessoalmente (Daniel), agradeço
aos meus país, que ajudaram na correria, sem eles eu não teria conseguido e a
minha companheira, Heloísa, que sempre me ajuda quando preciso.
Encerramos com uma citação do István
Mészáros sobre o papel da educação para
a mudança do sistema produtivo capitalista, dizemos também que se faz
necessário para a mudança de toda a consciência social preconceituosa,
conservadora e violenta:
[...]
o papel da educação é soberano, tanto para elaboração de estratégias
apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como
para as automudanças conscientes dos indivíduos chamados a concretizar a
criação de uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente. É isso que
se quer dizer com a concebida “sociedade dos produtores livremente associados”.
Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a “efetiva transcendência
da autoalienação do trabalho” seja caracterizada como uma tarefa
inevitavelmente educacional. (MÉSZÁROS, 2002)